A
profissão contábil desponta como uma das carreiras mais promissoras do mundo.
Pesquisa realizada com 2.528 executivos em 19 países pela Robert Half, uma das
maiores empresas em recrutamento especializado no mundo, revela que os
executivos da contabilidade são os mais disputados no mercado. A resposta dos
entrevistados, conforme explica o gerente da divisão de finanças e
contabilidade, Alexandre Attauah, as principais razões para o aumento da
demanda são o crescimento ou expansão dos negócios, aumento da carga de
trabalho, fusão, aquisição e atualização de sistemas financeiros, além da
adaptação das normas internacionais.
Em
contrapartida, segundo ele, as exigências das empresas na hora da contratação
também são grandes e relevam que o bom embasamento técnico e teórico na área
fiscal, conhecimento sobre orçamento, controladoria e o domínio de uma língua
estrangeira, são os principais requisitos.
Segundo
Attauah, a adequação da Contabilidade brasileira às novas regras das International
Financial Reporting Stardards (IFRS, sigla em inglês para as normais
internacionais de Contabilidade) provocou uma exigência natural pela
profissionalização. Além disso, conforme o executivo, as empresas brasileiras
estão valorizando mais o departamento financeiro, deixando de considerá-lo
apenas como uma área de controle de gastos. No entanto, segundo ele, um
profissional contábil qualificado é o mais difícil de ser encontrado no
mercado, seguido pelo de finanças. "Este resultado é diferente do apontado
no ano passado, quando o auditor apareceu como o profissional mais
procurado", comenta.
Para ele,
o motivo para esta mudança é que este ano o foco das empresas está direcionado
à contenção de gastos e à otimização de resultados, tarefas mais relacionadas à
contabilidade.
Conforme
a pesquisa, o momento alto da carreira não acontece só no Brasil. Os países com
forte expansão da atividade são Dubai, em primeiro lugar; China, que vem em
segundo e o Brasil, que aparece em terceiro lugar. Apesar de grandes ofertas de
emprego no exterior, Attauah conta que os contadores brasileiros preferem ficar
no País, onde os negócios e a economia estão bem aquecidos.
Além do
aumento da demanda, os processos de seleção também tendem a ser mais velozes no
Brasil. Pelo menos é o que revela o estudo mostrando que, em 60% das empresas
do País, o tempo médio para a contratação dos executivos é de até quatro semanas,
superior a media global, abaixo de 50%.
"Com
o mercado aquecido, o prazo de contratação é entre uma e duas semanas.
Processos longos e burocráticos desestimulam os candidatos", completa o
executivo da Robert Half. O fim do ano é o período mais crítico para o setor
financeiro, pois é quando ocorrem fechamentos, balanços e relatórios. "Por
isso, nos primeiros meses do ano as empresas costumam investir em altos
executivos para reforçar a equipe e suportar a alta demanda de trabalho",
conclui o gerente da Attauah.
No
Brasil, as normas internacionais fizeram com que o mercado contábil desse o seu
salto quântico. O vice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina do
Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Sergio Prado de Mello, faz um alerta
para que os profissionais busquem se aperfeiçoar. "Aqueles que fizerem
contabilidade para atender apenas os aspectos fiscais ficarão obsoletos e fora
do mercado", adverte. Hoje é preciso desvincular a doutrina da parte
fiscal e explica que os conceitos contábeis não são os mesmos dos conceitos
fiscais.
Eleições
podem abrir as portas ao mercado contábil
Além da
crescente demanda por profissionais da contabilidade no Brasil, as campanhas
eleitorais podem se tornar um bom mercado. A partir de 2012, elas tornam-se
oficialmente empresas, devido a algumas exigências do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), como por exemplo, a de que cada candidato possua Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e abra uma conta bancária específica para a
movimentação financeira.
Em 2012, ocorrerão
eleições em 5.566 municípios brasileiros para prefeitos e vereadores. No Rio
Grande do Sul, 496 municípios gaúchos deverão eleger seus representantes. A
Justiça Eleitoral determina que os candidatos e os partidos políticos
apresentem regularmente as suas movimentações financeiras de despesas e
receitas. E é nesse momento em que a procura por profissionais da área contábil
pode crescer ainda mais, mesmo não havendo a exigência desse trabalho ser
realizado por contadores ou técnicos.
O
Conselho Federal de Contabilidade (CFC), de acordo com o vice-presidente de
Fiscalização, Ética e Disciplina, Sergio Prado de Mello, já está em tratativas
com o TSE para que as prestações de contas sejam assinadas por esses
profissionais a fim de dar maior autenticidade às contas. Segundo ele, isso
pode acontecer para as eleições dos próximos anos, pois as regras para 2012 já
estão prontas. "Essa é uma atividade fundamental que deveria ser realizada
por esse especialista, pois ele é a pessoa melhor preparada para isso",
defende.
O
contador Carlos Souto é um dos poucos profissionais no Estado com experiência
nessa área. Ele defende que o trabalho seja executado por quem realmente possui
o entendimento sobre a matéria. Souto trabalhou para um dos grandes partidos do
Rio Grande do Sul e atua neste mercado desde 2006, e já perdeu as contas a
quantos candidatos prestou serviços contábeis. Segundo ele, a correta
movimentação financeira é uma das maiores preocupações das assessorias, pois
todo o trabalho desenvolvido pode ser colocado em risco pelo descumprimento de
alguma regra eleitoral.
O papel
do contador, esclarece, é o de fiscalizar os documentos, pois ocorrem inúmeros
problemas com recibos e notas fiscais, por exemplo. A comprovação de gastos,
desde os pequenos valores unitários, como borracha, pedágio, caneta etc, deve
estar representada por documento fiscal.
Novas
regras demandam maior atenção
Um bom
marketing político pode fazer com que o candidato ganhe uma eleição, mas uma
contabilidade mal feita faz com que ele perca na hora de prestar contas. Um
erro coloca em risco uma candidatura, como foi o caso nas eleições municipais
de 2008, quando o TRE-RS indeferiu a candidatura de 19 candidatos, que tiveram
seus registros impugnados. Entre eles, a da deputada federal Maria do Rosário
(PT) que teve de recorrer à corte suprema para reverter a decisão que negou o
seu registro de candidatura por causa de dívidas de campanha. A polêmica girou
em torno de R$ 898 mil que deixaram de ser pagos e que provocaram a rejeição
das contas da campanha.
Segundo o
coordenador de auditoria do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul
(TRE-RS), Herbert Dias Miranda, algumas regras foram alteradas pelo TSE. Os
candidatos e assessores devem ficar atentos. Além da inscrição do CNPJ e a
comprovação da abertura de conta bancária específica, é necessário que o
candidato utilize o Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE),
desenvolvido pelo TSE, a fim de obter os recibos eleitorais que deverão ser
impressos diretamente no SPCE.
Também
durante a campanha, os candidatos, comitês financeiros e partidos políticos
deverão apresentar as contas conhecidas como parciais, por duas vezes, no
período de 28 de julho a 2 de agosto (1ª parcial) e 28 de agosto a 2 de
setembro (2ª parcial), com as publicações pelo TSE em 6 de agosto (1ª parcial)
e 6 de setembro (2ª parcial). Os recibos eleitorais serão emitidos
exclusivamente pelo sistema informatizado, o que significa que não haverá
blocos de recibos em poder de colaboradores na captação de recursos, o que,
acredita Miranda, causará alguns transtornos.
Auditoria
desempenha papel fundamental nas contas públicas
A
carreira de auditoria, papel também exercido por contadores, tem grande força
na esfera pública, por exemplo. O presidente do conselho executivo do Instituto
dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil), Renato Trisciuzzi, conta que a
carreira de auditor ganhou maior importância a partir do ano 2000, em razão de
grandes crises mundiais e a necessidade de transparência nas prestações de
contas das empresas, seja privada ou pública. Com a adoção das normas
contábeis, as exigências de especialização se tornaram uma realidade
imprescindível para alavancar a carreira. "O entrave ainda é a
qualificação, embora os conselhos venham fazendo um bom trabalho, mas ainda se
percebe necessidade de evolução da base de ensino", comenta o presidente.
Na área
pública, os tribunais de contas têm papel fundamental de exercer o poder de
fiscalização e de revisão da atividade administrativa em qualquer das esferas
de poder. O auditor, segundo Trisciuzzi, gerencia o risco para que o futuro
governante não utilize a máquina a seu favor, seja na forma da propaganda ou de
outros gastos. Segundo ele, o profissional também pode agir preventivamente e o
mercado brasileiro é propício para isso.
Fonte:
Jornal do Comércio
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