No Brasil
do capitalismo democrático, a Contabilidade é cada vez mais relevante, um fator
decisivo para a credibilidade dos setores público e privado.
A ciência
contábil floresce e se desenvolve quanto mais democrático for o país. Balanços
publicados dão a dimensão do desempenho das organizações. Se os lucros dos
bancos são maiores do que a soma dos obtidos pelas outras empresas listadas na
Bolsa de Valores, conclui-se que os juros estão elevados e sugam parte da saúde
financeira dessas firmas. E mais: a política monetária é alterada em função
dessa informação. Se o balanço da previdência indica despesa maior do que as
contribuições, o sistema está comprometido.
Imaginem
informações dessa natureza em ditaduras. Tiranos controlam seu povo sem lhes
dar condições de divergir, e a contabilidade é ciência da sinceridade! A
relevância do contador é de tal ordem, que em países como a Inglaterra o
orçamento do governo é assinado por um desses profissionais e entregue ao
Parlamento pelo primeiro ministro, em ato de visibilidade pública. Jornais e
revistas debatem o orçamento e programas de TV e rádio passam temporadas
tratando do tema. Ser contador no Reino Unido tem tal significado que até pouco
tempo atrás era a rainha quem entregava solenemente a carteira profissional.
Por que
no Brasil a contabilidade não foi tratada da mesma forma? Por que os nossos
jovens não se entusiasmam pela carreira? Afinal, paga-se muito bem, o mercado
sempre demanda esse profissional e ele pode ser um empresário. Parece que a
profissão perdeu parte da relevância na ditadura. Informação clara não era o
que se queria levar à sociedade. Outro aspecto foi a inflação dos anos 70 e 80
e parte dos anos 90. Durante quase três décadas, nossos bravos contadores
ficaram de cabelos brancos, cuidando de corrigir monetariamente os balanços.
Sem falar na interferência do fisco, que fazia da contabilidade o seu
instrumento para calcular e taxar.
Parte das
mudanças veio com a Lei das Sociedades por Ações, de nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, iniciando-se um processo de arejamento da contabilidade
brasileira, possibilitando a abertura do mercado de capitais e viabilizando
recursos da poupança para as empresas. Mais recentemente, a lei 11.638, de 28
de setembro de 2007, adequou nossa contabilidade às normas internacionais.
A grande
missão da contabilidade desde o seu criador, o frei Luca Bartolomeo de Pacioli,
é estabelecer a responsabilidade no trato da coisa pública e privada. Este elementar
princípio, que ele descreveu em 1494, instituiu uma nova ordem, que indicava
ser impossível que alguém aplicasse um recurso sem ter a sua origem definida.
Quando não se respeitam tais pressupostos, tende-se a montar orçamentos que não
fecham, contas que não batem e empresas e países que quebram.
No Brasil
atual do capitalismo democrático, a contabilidade é cada vez mais relevante, um
fator decisivo para a credibilidade dos setores público e privado. Por isso, é
fundamental a formação de novos contadores altamente capacitados no plano
técnico e conscientes de seu papel no desenvolvimento. Que os jovens descubram
essa emocionante profissão.
(*)
Antônio Marmo Trevisan
Fonte:
Brasil Econômico
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