Temos de
admitir. O mercado está muito carente de mão de obra especializada e os
profissionais capacitados, disputados por empresas e escritórios contábeis,
acabam inflando os salários na área.
Invariavelmente,
recebemos muitos questionamentos de contadores, mas um deles chamou bastante a
atenção, por demonstrar uma percepção acertada da atual realidade. Ao questionar
se a falta de mão de obra não está diretamente ligada à baixa remuneração do
mercado, nosso amigo contador faz uma análise acurada da situação.
Segundo
ele, “nas turmas concluintes das universidades a maioria dos alunos não segue a
carreira de contador. Já faz muito tempo que estamos perdendo a mão de obra
contábil; os escritórios estão disputando entre si por mão de obra – e, às
vezes, não é nem pela melhor. Mas se o mercado continuar pagando tão mal, a
falta de mão de obra qualificada vai cada vez mais aumentar, pois não está
sendo atrativo para os estudantes. Os bons profissionais não querem mais
trabalhar para escritórios, e estes convivem com problema terrível da constante
rotatividade de seus funcionários pela insatisfação financeira. O problema
talvez não esteja apenas na qualidade de ensino, acredito que tenhamos agora o
começo de uma nova estruturação na área.”
Simplesmente
fascinante a clareza e a racionalidade da análise, pois traduz fielmente o
atual cenário do mercado contábil nacional frente aos desafios que se impõem em
uma economia como a nossa.
Aproveitando
esta abordagem, vamos falar um pouco mais sobre o assunto, sob a ótica do
surgimento do projeto SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), que
acabou criando uma necessidade por conhecimento jamais vista no segmento,
expondo as deficiências que existiam e não eram identificadas.
Com esta
supervalorização podemos estar incorrendo num erro no qual qualquer
profissional com um pouco de capacitação seja mais valorizado do que deveria.
Está claro que o projeto SPED veio para dar uma sacudida no nível de
qualificação das pessoas dentro da estrutura operacional das empresas e dos
escritórios contábeis.
Não
podemos deixar de reconhecer que a estrutura dos escritórios contábeis, os
salários e benefícios oferecidos pelo segmento atualmente não são motivadores
para novos profissionais, no momento de escolher investir numa carreira.
Duas
variáveis que ajudam a motivar profissionais a escolher uma carreira são
remuneração e desafio. Hoje o salário oferecido no mercado contábil em geral
não é compatível com carreiras muito mais atrativas e menos estressantes,
enquanto o desafio na área é gigantesco e inúmeras oportunidades estão aí para
serem exploradas por profissionais inteligentes e capacitados.
Existem
muitas perguntas sem respostas e várias abordagens podem nos levar a diversas
reflexões, mas creio ser importante explorar agora dois momentos: o hoje e o
amanhã, ou o presente e o futuro.
O SPED
mostra claramente dois desafios que podem ser separados em duas etapas: uma,
que vamos chamar de hoje, significa aquilo que uma empresa gera de informações
corretamente, qual esforço, ferramentas, adequações, investimento e
conhecimento necessários; e outro, o amanhã. Atualmente, está muito difícil convencer
e preparar uma empresa para que as informações sejam saneadas, monitoradas e
geradas com qualidade e consistência desde seu nascedouro, seja uma nota fiscal
eletrônica, um cupom fiscal, um conhecimento de transporte eletrônico, ou
qualquer outro documento.
Converse
com qualquer contador e veja que o hoje tem sido uma experiência muito difícil,
trabalhosa, onerosa e desafiadora, mas uma vez superada colocará a empresa num
amanhã muito melhor e que se transformará numa rotina normal como era antes do
SPED.
Isto,
entretanto, com uma diferença: a empresa passou por uma transformação que pode
ter trazido muitos benefícios, chegando até mesmo à redução de impostos que
eram pagos em função de erros não detectados pelos sistemas e pelo
distanciamento do escritório contábil da operação de seu cliente.
O tempo
decorrido entre o hoje e o amanhã será determinado pelas iniciativas e
planejamento, pode ser de alguns poucos meses ou até mesmo anos, dependendo do
nível de compreensão do empresário para a realidade e da qualidade dos
trabalhos executados.
Mas se o
amanhã pode se tornar algo rotineiro, qual será a capacitação ou qualificação
exigida dos profissionais que os escritórios contábeis terão que ter em suas
áreas fiscais, que trabalhos e atividades terão que desenvolver frente a esta
nova rotina e qual será a remuneração justa?
A equação
é simples de ser visualizada imaginando uma linha do tempo, onde uma empresa
uma vez adequada ao SPED, fazendo a coisa certa, reduz o trabalho e o esforço,
passando por uma manutenção e acompanhamento menos trabalhosos e onerosos,
levando a uma nova realidade, uma rotina normal dentro do negócio.
No
planejamento da estrutura e de salários de sua área fiscal, o empresário
contábil não pode tirar os olhos do hoje, mas deve, paralelamente, ir
visualizando como será o seu amanhã.
(*)
Carlos Meni – presidente da Prosoft Tecnologia
Fonte: TI
INSIDE
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