A função
financeira nas empresas abrange, essencialmente, três grandes áreas de
decisões: investimentos, financiamentos e repartição do resultado. Mais
precisamente, ela envolve o processo de obtenção e alocação eficiente de
fundos, a fim de permitir à empresa desenvolver suas atividades e remunerar o
capital investido. Os investimentos constituem a estrutura de ativos e podem
ser financeiros, operacionais e fixos. São realizados de modo criterioso,
obedecendo a técnicas de análise de viabilidade econômica. O perfil dos
investimentos depende, sobretudo, da atividade que a empresa exerce, ou seja,
indústria, comércio ou serviço. Quanto aos financiamentos, estes referem-se aos
capitais próprios e de terceiros levantados pela empresa. Seu montante
constitui a estrutura de passivos ou de financiamento. São muitos os
determinantes da escolha da estrutura de financiamento. Dentre os principais,
destacam-se a disponibilidade e o custo dos recursos, as características do
negócio (estrutura de ativos, rentabilidade), as condições do ambiente
econômico, a oportunidade. O custo médio ponderado da estrutura de
financiamento figura entre os elementos-chave para a administração financeira
da empresa, pois pode determinar a viabilidade econômica ou não de
investimentos e, até mesmo, do negócio. No que tange à repartição do resultado,
trata-se de uma esfera de decisão em que se define a política de distribuição
do lucro obtido em determinado período. A parte do lucro que é retida torna-se
uma importante fonte de recursos (autofinanciamento) que, aliás, é muito
utilizada pelas empresas brasileiras. O ponto de encontro das decisões
mencionadas acima é o fluxo de caixa, que é um instrumento de vital importância
para a administração. Investir, financiar e repartir o lucro representam,
portanto, a essência da função financeira nas empresas, cujas operações são
registradas, organizadas e apresentadas pela Contabilidade.
Tendo em
vista o destinatário principal da informação contábil, a contabilidade pode ser
classificada como financeira e gerencial. A Contabilidade financeira é a
responsável por estabelecer um canal de comunicação entre a empresa e os
agentes externos, tais como bancos, fornecedores, investidores, autoridades
fiscais e reguladoras. Sua maior função consiste em registrar, organizar e
sintetizar as decisões tomadas pela empresa em determinado período, bem como
informar, por meio das demonstrações contábeis, os efeitos que elas provocam
sobre sua situação econômico-financeira. Essas demonstrações compreendem o
balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício, a demonstração
do fluxo de caixa, a demonstração das mutações do patrimônio líquido e a
demonstração do valor adicionado. A divulgação desses relatórios é obrigatória
para as sociedades anônimas de capital aberto e empresas de grande porte. É por
meio deles que usuários externos podem analisar, diagnosticar e acompanhar o
desempenho global da empresa, com destaque para aspectos de liquidez, grau de
endividamento, lucratividade e rentabilidade. A contabilidade financeira é
obrigatória, padronizada e executada mediante a observância de um conjunto de
normas e procedimentos. O resultado do seu trabalho permite à empresa cumprir
suas obrigações legais, fiscais, sociais e, ao mesmo tempo, reduzir a
assimetria de informação no âmbito de suas relações com o mercado.
Por sua
vez, a contabilidade gerencial orienta-se aos agentes internos da organização.
Seu objetivo é produzir dados, informações e relatórios gerenciais que auxiliem
o administrador a avaliar, planejar, controlar, dirigir e tomar decisões.
Diferentemente da contabilidade financeira, a Contabilidade gerencial não
precisa obedecer a normas e procedimentos contábeis, fiscais e legais.
Utiliza-se, entretanto, de contribuições oriundas de outras áreas e disciplinas
(teoria das organizações, economia, psicologia, ciência política, métodos
quantitativos) na sua busca por uma melhor análise e compreensão dos fenômenos
organizacionais. Avaliação de desempenho, geração de valor, controladoria e
sistemas de apoio à decisão, controles de gestão, sistema orçamentário, gestão
estratégica de custos e relatórios detalhados por produtos, departamentos,
clientes estão entre as principais contribuições da contabilidade gerencial à
administração das empresas. Sua ênfase reside na informação relevante, oportuna
e capaz de orientar decisões voltadas para o futuro da empresa. A análise de
custo-volume-lucro é um bom exemplo do emprego dessa perspectiva. Esse tipo de
análise, que se desenvolve a partir do conhecimento da natureza e do
comportamento dos custos e despesas, proporciona ao administrador dados e
informações tais como margem de contribuição, ponto de equilíbrio (operacional,
econômico e financeiro), grau de alavancagem operacional (sensibilidade do
lucro operacional a variações em vendas). São informações que, entre outras
aplicações, permitem ao gestor avaliar desempenhos de produtos e serviços,
redefinir a carteira de produção e vendas, determinar o nível mínimo de
atividade para cobrir despesas e custos fixos e avaliar o risco do negócio.
É,
portanto, evidente que a contabilidade exerce um papel de grande relevância na
administração das empresas, seja respondendo às demandas de agentes externos,
seja produzindo dados e informações para usuários internos. Cabe destacar,
contudo, que obter informações implica em custos que devem ser considerados
pelo empreendedor ao definir a estrutura de informação contábil que melhor se
ajusta às características e perspectivas do seu negócio. Se a intenção for
crescer, prosperar e atrair novos investidores, uma estrutura contábil que
incorpore os aportes da contabilidade gerencial pode revelar-se a mais
adequada. Neste caso, o empreendedor não poderia restringir-se a uma
contabilidade orientada apenas ao atendimento de questões fiscais e legais. Ao
contrário, ele precisaria de uma Contabilidade mais completa e robusta.
Para
concluir, a mensagem que poderia ser deixada aos empreendedores é a seguinte:
tenha a Contabilidade como uma parceira, pois ela pode ajudá-lo, sobremaneira,
a administrar o seu negócio.
(*)
Antonio Dias Pereira Filho – professor, escritor, palestrante e membro da ALLA.
Autor de Structure du capital, dynamisme environnemental et performance: une
articulation entre la finance et la stratégie, publicado pela Les
Éditions du Panthéon, Paris, abril de 2012
Fonte: Administradores.com23/04/2012
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